quarta-feira, 17 de setembro de 2008

foto de 9/8/1958


dois dias atrás, conversando com um amigo, lembrei-me de umas fotos que havia sutilmente surrupiado da minha irmã, numa das minhas visitas lá na casa dela.
falávamos daquelas “casinhas” que havia nos quintais. na foto aparecia uma.
decidi digitalizá-las... mostrei p/ o meu amigo, enviei p/ o meu irmão (com a ajuda do meu amigo. sei lá o porquê, o meu mail estava rebelde)...
desde então, tenho olhado p/ essas fotos...
quantas lembranças passam como um flash pela minha memória.
aquela casa que aparece ali ao fundo, do lado direito, era onde morava a dona estela. a mulher mais festeira da rua.
era ela quem promovia as festas juninas, que eram feitas na rua mesmo.
lembro-me do mutirão que a molecada fazia a procura de lenha, que resultava numa fogueira enorme.
a vizinhança se unia para preparar as comidas típicas dessa época. sinceramente, não me lembro se havia bebidas.
eram dias frios.
consigo pensar nas brincadeiras de roda, jogos de amarelinha, passa anel, pula corda...
e lembro-me também, que minha mãe não gostava que participássemos de tudo isso. dizia que era festa do diabo.
e nós lá queríamos saber de quem era a festa?
queríamos mesmo era provar de todas as delícias que botavam bem ali à nossa disposição. coisa rara naquele tempo.
somente muito mais tarde, fui entender essa coisa que incomodava minha mãe. descobri que festa junina era originalmente, uma festa pagã. como éramos evangélicos, havia um choque de culturas.
na foto, do lado esquerdo, no outro quintal, se apoiando na cerca de arame farpado, está a ana. a filha mais nova da dona dina. era pouco mais velha que eu. aninha já é falecida. não faz muito tempo, meus irmãos estiveram na casa da dona dina. segundo eles, ela permanece lúcida e falante como sempre, apesar de seus 90 anos.
senti saudades dela agora... e até consegui ver sua imagem, usando um chapéu de palha amarrado com um laço logo abaixo do queixo, chegando em casa carregada de objetos de cozinha (bacias, tigelas, jarras etc.), que marretava na feira...tantas outras coisas eu vejo ali... na verdade, coisas que estavam armazenadas num arquivo antigo da memória e que a simples visão da foto, fez com que elas saltassem à minha frente.



beijos meus...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

a pena...


hummmm
penso que penso e repenso
quais palavras combinam com uma pena?
mas não é uma pena qualquer
há penas que são importantes
essa é uma delas
ontem abri a gaveta, lá estava ela...
guardadinha, sei lá, há quanto tempo.
mexeu comigo
tantas coisas passaram pela mente
será que você ainda se lembra dela?
talvez possa se lembrar dos pavões
foi de um deles que a pena fugiu
veio flutuando até nós
você a colheu e disse:
“veja só, o pavão ficou amedrontado
está devolvendo o azul que roubou dos olhos teus...”
rimos
e então decidimos
meus olhos não são nem verdes nem azuis
são cinzas...como as nuvens que de lá nos espantaram.

domingo, 3 de agosto de 2008

anjos que passam...


havia aqui uma alma dilacerada
um coração dolorido
um imenso vazio

ele ofereceu o seu ombro
estendeu sua mão
entregou seu carinho

disse palavras doces
acariciou o espírito
não reprimiu as lágrimas
ouviu e sorriu

não removeu a tristeza
como um bálsamo,
aliviou a dor

não sei quem é ele
nem sei p/ onde ele vai

porém, hoje, se fez presente
trouxe-me paz...
p/ j. saraiva

sexta-feira, 18 de julho de 2008

a estradinha...


a estrada estava deserta.
o caminho era estreito e seguia por entre montanhas verdes, que, pelo avançado da hora, perdiam, aos poucos, sua cor.
eu dirigia vagarosamente observando a beleza que estava ali, bem à minha frente.
a lua impunha sua presença de maneira sutil, aumentando seu brilho quase que de forma imperceptível, emprestando ao céu um azul mais intenso.
em alguns pontos, precipícios de darem frio na barriga.
ao longo da estrada uma vegetação ímpar... pastos... flores coloridas (ferrugem, vinho, amarela, roxa, vermelha, lilás). marias-sem-vergonha salpicavam pequenos trechos criando um ar romântico e encantador.
eu estava maravilhada com tamanha beleza. o desejo de registrar a imagem me fez parar.
a beleza do cenário, o perfume que pairava no ar e a brisa levemente fria me traziam à memória lembranças de momentos não vividos.
lá estava você: presente no meu presente.sentei-me numa pedra. apenas contemplava. suguei o momento pela lente da objetiva...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

zé e maria...


zé e maria...
maria era uma jovem de 20 anos. sonhadora como todas as demais de sua idade.
zequinha, um soldado do exército. servia no quarto regimento de infantaria em quitaúna (soldado 1865).
tinham um primo em comum, que tratou de aproximar os dois.
p/ ele, falava da beleza que maria nem sabia possuir. dos olhos verdes. da sua simpatia, apesar da timidez. do sorriso sempre presente em seu rosto de traços germânicos, de quanto era uma boa filha.
p/ ela, contava das peripécias dele p/ sobreviver numa cidade grande, das histórias que contava quando ia à hípica assistir corridas de cavalo, de como se tornou corinthiano, por conta de ver os jogos do único time que não cobrava entrada. do quanto era querido pelo capitão que o nomeou seu ordenança.
e foi por conta do que dizia isaias, que zequinho mandou uma foto sua p/ maria.
ele era lindo! o coração de maria batia mais forte só de pensar nele.
um dia ela soube, pelo primo, que ele estaria indo p/ a casa da irmã, que morava em glicério. maria morava em são luís do guaricanga, lugar onde o trem que viajaria zequinha, teria de parar p/ a baldeação.
ela não teve dúvidas: foi até a estação a procura dele. ela tinha a foto... e quando o encontrou, (trêmula) se apresentou. foi um encontro de almas. se entenderam pelo olhar. ele quis desistir de sua ida a glicério, porém, ela não permitiu. conversaram na estação enquanto ele aguardava o trem da baldeação. prometeu ir vê-la na volta.
maria, entre feliz e ansiosa, voltou p/ casa e só então contou p/ todos o que tinha feito. não acreditaram nela. disseram que ela tinha sido enganada por algum soldado mal intencionado. que tinha feito loucura. que não mediu conseqüências... blá, blá, blá...
ela nem deu importância p/ o falatório. esperou com paciência.
uns dias depois, eis que surge ao longe, a figura de um soldado. quem viu, foi correndo chamar maria, que foi ao seu encontro de coração acelerado e de braços abertos.
seu caetano, pai de maria, foi enérgico. quis logo saber das intenções do moço. depois de conversarem um tempo interminável, permitiu o namoro.
casaram-se um ano depois.
enfrentaram problemas, dificuldades, mudaram de cidade, tiveram cinco filhos.
riram e choraram juntos por tantas vezes.
viveram... até que a morte os separou.

saudades deles!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

minha companheirinha...


conhecemo-nos na rua. foi um encontro casual. desinteressado. simpatia à primeira vista!

nada tinha ela de atraente ou que pudesse chamar a atenção, a não ser, aquele permanente sorriso no olhar.

um sentimento brotou entre nós. uma coisa assim de cumplicidade.

todas as manhãs ela vinha o meu encontro, alegre, meio que esperando o meu bom dia. o meu cumprimento a deixava feliz. acompanhava-me até a esquina. de lá, bastava um gesto meu e ela retornava ao ponto de partida. claro, não fazia isso sem pelo menos uma vez, olhar p/ trás.

essa nossa descompromissada relação me fazia bem. eu me sentia amada. e acho que ela também.

numa noite, ao chegar em casa, uma fatalidade. um motorista descuidado. ela foi gravemente ferida. e, sem que eu me desse conta, ela desapareceu na escuridão. tentei em vão encontrá-la. - onde estaria a minha companheirinha?

com dor no coração saí p/ o meu trabalho no dia seguinte. à noite, uma surpresa. lá no portão estava ela. suja, trêmula... tinha se arrastado e me olhava como que pedindo por socorro. que dor deveria estar sentindo! com cuidado eu a recolhi em meus braços e a levei p/ casa. era a minha hora de retribuir o carinho. fiz isso com prazer. dei remédio, dei atenção... aos poucos, a febre cedeu e ela foi se recuperando. mais alguns dias e ela passou a se alimentar e ainda com dificuldade, caminhar um pouco. mais uns dias e parecia que nada tinha acontecido. dei banho, perfumei, troquei as roupas da cama especialmente preparada p/ ela.

bem... o que fazer agora? eu não poderia devolvê-la na rua, depois de tudo que passamos juntas. tive de adotá-la.

cá está ela comigo, mais simpática do que nunca... é a xulica... minha alegre companheira.